Guia da Volta à Flandres 2025
Hoje disputa-se o último monumento do ciclismo do ano, é dia da mítica Volta a Flandres. Será a 109ª edição da principal competição da região que vive o ciclismo com mais paixão, a Flandres. Esta prova é a preferida de muita gente que acompanha de perto ciclismo, porque realmente é única, com um ambiente especial e que resume bem o significado que tem o ciclismo para esta zona do globo.
Os seus inúmeros Hellingen's, que nós por cá traduzimos como subidas, colinas ou muros, com pavé à mistura e a quilometragem a rondar os 270 quilómetros (este ano mais curta) faz desta clássica uma das mais duras do calendário velocipédico mundial.
São seis os ciclistas que partilham o maior número de vitórias na prova, com três vitórias cada um temos: Achiel Buysse (1940, 1941 e 1943), Fiorenzo Magni (1949, 1950 e 1951), Eric Leman (1970, 1972 e 1973), Johan Museeuw (1993, 1995 e 1998), Tom Boonen (2005, 2006 e 2012), Fabian Cancellara (2010, 2013 e 2014) e Mathieu van der Poel (2020, 2022 e 2024).
Em termos de ranking de vitórias por país, o grande dominador é sem grande surpresas, a Bélgica:
1.Bélgica-69
2.Países Baixos-13
3.Itália-11
4.Suiça-4
5.França-3
6.Alemanha-2
6.Dinamarca-2
7.Reino Unido-1
7.Noruega-1
7.Eslováquia-1
7.Eslovénia-1
A partida e a chegada tem variado ao longo da história da prova, até ao anos 70 a largada tinha sido sempre realizada da cidade de Gent, aqui ficam a diferentes variantes utilizadas ao longo dos anos:
1913-Gent – Mariakerke
1914-Gent – Evergem
1919–1923 Gent – Gentbrugge (Arsenal)
1924–1927 Gent – Gent (pista)
1928–1941 Gent – Wetteren
1942–1944 Gent – Ghent (pista)
1945–1961 Gent – Wetteren
1962–1972 Gent – Gentbrugge
1973–1976 Gent – Meerbeke
1977–1997 Sint-Niklaas – Meerbeke
1998–2011 Brugges – Meerbeke
2012-2016 Brugges - Oudenaarde
2017-2024 Antuérpia - Oudenaarde
2024-???? Brugges - Oudenaarde
História
Em 1913 a principal prova era a Volta à Bélgica, sendo que a Liège-Bastogne-Liège e as outras provas de um dia ainda não tinham atingido grande popularidade. A revista Sportwereld ao assistir à vitória de Odile Defraye na Volta à França de 1912, decidiu que era tempo de se criar uma grande prova na Flandres, Karel van Wijnendaele um dos fundadores da revista organizou a 1ª edição.
A Volta à Flandres desde cedo esteve fortemente ligada à identidade da Flandres, a intenção era concorrer e contrabalançar o domínio francês e da Valónia no ciclismo. Este facto, politizou a prova e fez com que uma grande parte das equipas francesas não participassem na mesma. Desta forma o pelotão não contou com os melhores corredores da época.
A primeira edição foi ganha por Paul Deman, num sprint de um grupo de cinco. No total participaram 37 corredores que iniciaram a jornada épica de 324 quilómetros, após Van Wijnendaele proferir a seguinte expressão: "Heeren, vertrekt!". Os primeiros completaram a prova em 12 horas, 3 minutos e 10 segundos.
Em 2017, Philippe Gilbert protagonizou uma das cavalgadas solitárias mais memoráveis da história da prova, ao isolar-se a mais de 50 quilómetros da meta no Oude Kwaremont e nunca mais foi apanhado. Nos últimos dois anos a prova foi decidida num sprint entre dois ciclistas, Mathieu van der Poel bateu Wout Van Aert em 2020 e perdeu para Kasper Asgreen em 2021.
últimos vencedores
2014 Fabian Cancellara (Swi) Trek Factory Racing
2015 Alexander Kristoff (Nor) Team Katusha
2016 Peter Sagan (Svk) Tinkoff
2017 Philippe Gilbert (Bel) Quick-Step Floors
2018 Niki Terpstra (Hol) Quick-Step Floors
2019 Alberto Bettiol (Ita) EF
2020 Mathieu van der Poel (Ned) Alpecin-Fenix
2021 Kasper Asgreen (Den) Deceuninck-QuickStep
2022 Mathieu van der Poel (NED) Alpecin-Deceuninck
2023 Tadej Pogacar (SLO) UAE Team Emirates
2024 Mathieu van der Poel (NED) Alpecin-Deceuninck
Percurso
Antuérpia - Oudenaarde (268,9 Km)
Apesar de algumas medanças, o percurso deste ano tal como nas últimas edições tem como ponto crucial a combinação Oude Kwaremont e Paterberg.
Oude Kwaremont abre as hostilidades com 130 Km percorridos. O Paterberg será transposto por duas ocasiões, a segunda será a última subida do dia, enquanto que o Oude Kwaremont será ultrapassado por três vezes. A principal seleção deverá ser na primeira passagem pela sequência Oude Kwaremont+Paterberg, a cerca de 55 Km do final e repete-se bem no final da corrida, com o Paterberg a ser a última subida do dia, a 13 Km da meta.
Depois da primeira passagem pela sequência do Kwaremont+Paterberg aparece uma sequência de subidas decisiva que continuará a selecionar, inclui o Koppenberg, Steenbeekdries, Taaienberg e Kruisberg.
Aqui ficam as 16 subidas (Oude Kwaremont e Paterberg repetem):

Meteorologia
Temperatura que vai variar entre os 6ºC de manhã até aos 14ºC de tarde.
Dia de sol e seco.
Vento moderado com períodos fortes, vai soprar de nordeste na maioria do percurso, potencial enorme para vermos bordures/echelons/abanicos/cortes.
Startlist
Aqui
Favoritos
O duelo
Sejamos realistas, há dois favoritos claros e são Pogacar e van der Poel. O esloveno vai tentar vingar a derrota de São Remo e van der Poel procura o tetra.
Mathieu van der Poel
Dominou a Milão-São Remo e na E3 não precisou de ir a fundo para meter 1 minuto na concorrência mais próxima. Em condições normais só vemos um ciclista que o pode vencer.
Não há muito a acrescentar sobre Mathieu van der Poel, já é um dos melhores classicômanos na história.
Não tem uma super equipa para o apoiar, mas também não é fraca, a Alpecin_Deceuninck sabe correr estas clássicas e raramente erram.
Tadej Pogacar
Bateu van der Poel em 2023, ou seja, ele sabe que é possível bater o neerlandês nestas estradas. Na Milão-São Remo, van der Poel domou o esloveno mas aqui a dureza é outra e o esloveno tem terreno para fazer a diferença.
Será mais um duelo para a história, Pogacar tem um bloco pornográfico para o lançar: Morgado, Wellens, Politt, Bjerg, F. Vermeersch e Narvaez. Qualquer um dos gregários podia liderar 90% das equipas presentes.
Os coletivos
Seria surpreendente ver um vencedor fora do duo diabólico, mas não é impossível, o ciclismo é imprevisível. Entre os candidatos a surpresa, duas equipas destacam-se.
Matteo Jorgenson & Tiesj Benoot & Wout Van Aert
A exibição da equipa na DDV foi impressionante, as opções táticas depois foram desastrosas e culminaram com uma derrota de Van Aert no sprint.
Wout Van Aert parece ser o elo mais fraco entre o trio, mas o belga também parece estar a subir de forma. Matteo Jorgenson começou o ano forte, no ano passado tentou seguir van der Poel e acabou por pagar depois, este ano com Van Aert na equipa, pode ser usado de outra forma. Por fim Tiesj Benoot, que na DDV impressionou-me bastante e pode ser um ciclista importante na movimentação da equipa.
Mads Pedersen & Jasper Stuyven
A outra equipa é a Lidl-Trek, Mads Pedersen é a estrela e Jasper Stuyven é a segunda espada. O dinamarquês na E3 foi o segundo mais forte atrás de van der Poel, a forma é excelente mas tal como todos os outros vai ter de ser criativo para bater Pogacar e van der Poel.
Jasper Stuyven é outra carta importante da equipa americana, começou o ano bem e se as pernas estiverem bem, é um ciclista que gosta de mexer na corrida e conhece estas estradas como poucos.
Outsiders
Fora os duo inevitável, a Visma-LAB e Lidl-Trek, as opções são muitas mas a probabilidade que algum destes vença é menor. Há um nome que se destaca, Pippo Ganna, o italiano começou o ano com os objetivos bem definidos, na Milão-São Remo apenas foi batido por um invencivel van der Poel e na E3 esteve bem. Dentro da Ineos a equipa ainda tem Magnus Sheffield e Ben Turner, corredores que não têm hipóteses de vencer no mano a mano com os principais favoritos mas que podem antecipar movimentos e acabar em lugares cimeiros.
Temos expectativa para ver Stefan Kung este ano, está em boa forma e os resultados comprovam isso, 6º e 9º na E3 e DDV respetivamente. O problema do suíço é o de sempre, a falta de sprint. Valentin Madouas tem passado ao lado este ano nas clássicas, as expectativas são baixas.
Depois temos o vencedor da DDV, o homem que derrotou a Visma-LAB, Neilson Powless tem grandes ambições para esta Ronde, em 2023 terminou no top-5 e este ano procura melhorar esse resultado.
A Jayco-Alula conta com Michael Matthews, mas o australiano nas últimas provas tem demonstrado fragilidades e por lógica a natureza da RVV é implacável com a minima fraqueza.
Alguém tem visto Matej Mohoric nesta temporada de clássicas?
A Tudor quer pontos e Mateo Trentin é a melhor opção, um top-10 será um excelente resultado. O italiano conhece bem estas estradas, mas nunca foi além do 10º lugar.
Lennert Van Eetvelt estreia-se na prova, diz que se Pogacar consegue ele também. Veremos se na estrada justifica tamanha confiança.
Entre os velocistas, destaque para Biniam Girmay, Alexander Kristoff e Paul Magnier. Dificilmente terão hipóteses numa prova endurecida.
★★★★★ Pogacar, van der Poel
★★★★ -
★★★ Jorgenson, Ganna, Pedersen
★★ Kung, Powless, Van Aert
★ Stuyven, Benoot, F. Vermeesch, Trentin, Matthews
Aposta: Tadej Pogacar
Joker: Jasper Stuyven
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