Guia da Volta à França 2024
A 111ª edição da Volta à França em Bicicleta começa este sábado da região italiana da Toscana. É um dos maiores eventos desportivos, extravasa o próprio desporto, sendo um dos acontecimentos mais relevantes e importantes que se realizam na Europa anualmente, está profundamente enraizada na cultura francesa e a sua grandeza é única.
No total os corredores farão quase 3498 Km, divididos por 21 etapas com dois dias de descanso pelo meio, até chegarem a Nice (este ano devido aos Jogos Olímpicos não será em Paris) no dia 21 de julho.
Breve resumo
- Disputa-se de 29 de junho a 21 de julho.
- 3498 Km, ao longo de 21 etapas.
- 166,6 Km é a distância média por etapa.
- 2 contrarrelógios, 8 etapas planas, 4 etapas de média montanha ou transição e 7 etapas de alta montanha (5 com chegada em alto):
- No total contará com 59 Km de contra-relógio individual, não há contra-relógio coletivo.
O percurso
1ª semana
A prova este ano começa na Toscana e abre logo com uma etapa bem complicada e seletiva. As primeiras três etapas são em território transalpino. A entrada em território francês faz-se em grande, com passagem pelo lendário Galibier, terreno onde o Tour foi decidido muitas vezes.
O contra-relógio na 7ª etapa e a 9ª etapa, dia de 'gravel' são outros pontos importantes da edição deste ano e tornam esta primeira semana complicada, os sprinters terão 4 oportunidades.
2ª semana
A segunda semana é um misto entre etapas para sprinters e alta-montanha, com a passagem pelos Pirenéus. A 11ª etapa é uma das mais complicadas de todo o Tour, mas a semana termina com a etapa com final em Plateau de Beille, pela nossa fórmula, é a etapa mais dura desta edição.
3ª semana
A semana final deste Tour é exigente com um final diferente, devido aos Jogos Olímpicos este ano a prova termina com um contra-relógio individual em Nice.
Se a segunda semana contemplam os Pirenéus, a terceira revisitam os Alpes (na primeira semana passam pelo Galibier). As 17ª e 18ª etapas são dias de montanha, no entanto, quase podem ser considerados de transição, já que servem de antecâmara para a 19ª e 20ª etapas, essas sim com uma dureza enorme.
O contra-relógio final também é durinho, o que quer dizer que esta edição tem três dias finais realmente duros e com potencial para mudanças na geral.
Etapas a não perder
Etapa 1
O Tour abre com um 'banger', etapa na bela Toscana com 3400 metros de subida acumulada num percurso de 200 Km.
Os números falam por si, o dia é exigente, apesar de tudo a subida final está a 28 Km da meta o que pode desencorajar ataques solitários.
Etapa 2
Ao segundo dia temos uma das subidas mais icónicas e bonitas, San Luca em Bolonha e só por isso está aqui na lista. O topo da última passagem está a 19 Km da meta.
Etapa 4
Ao quarto dia a prova entra em França e nada melhor que subir o Galibier, depois de passarem por Sestriéres e Montgenévre. A vertente por onde vão subir o Galibier não é o mais dura, mas trata-se de um monstro, os ciclistas sobem acima dos 2600 metros. Os últimos 19 Km são a descer.
Etapa 7
Contra-relógio plano de 25,3 Km. Há uma pequena subida a meio do percurso mas nada demais, é um dia para o especialistas. Diferenças importantes vão ser feitas neste dia.
Etapa 9
Antes do primeiro dia de descanso, temos a etapa do 'gravel'. São 14 setores de terra batida, com um total de 32 Km.
Dia que pode baralhar as contas.
Etapa 11
Quem olha para o perfil desta etapa pode achar que não é demasiado dura, mas não se deixem enganar, estamos no Maciço Central, terreno plano é raro e são 211 Km.
No menu estão 4 contagens de montanha, os últimos 40 Km são realmente complicados, com autênticos muros.
Etapa 14
Uma etapa que tem o Tourmalet tem presença obrigatória aqui. A segunda parte desta etapa é demoníaca com um final demolidor de 10 Km a 8% em Pla d'Adet, é um dos dias que as diferenças podem ser gigantescas.
Etapa 15
Uma das etapaa rainhaa da prova, quase 200 Km, cinco contagens de montanha, quatro de 1ª categoria a última que coincide com a meta é HC, nada mais nada menos que Plateau de Beille, com quase 16 Km a 8%. Mais um dia decisivo e que fecha da melhor forma a passagem pelos Pirenéus.
Etapa 19
Ao 19º dia nova etapa rainha, apesar de curta no menu está o Col de Vars, La Bonette (acima dos 2800 metros) e para finalizar o Isola 2000, com 16 Km a 7%.
Os ciclistas vão pedalar bastante tempo acima dos 2000 metros.
Etapa 20
Mais uma etapa curta, a formula repete-se do dia anterior, mas com menos altitude. No menu estão Col de Braus, Col de Turini, Col de la Colmiane e o Col de la Couillole, parece que estamos no Paris-Nice.
A subida final do Couillole são 15,7 Km a 7,1%.
A grande novidade deste ano, o final não é em Paris e não vamos ter o campeonato mundial de sprint. Este ano temos um contra-relógio de 35 Km durinho, que inclui as subidas a La Turbie (8,1 Km a 5,6%) e o muro do Col d'Èze (1,6 Km a 8%).
Os últimos 15 Km são a descer até ao coração de Nice.
Equipas e Favoritos
Favoritos
★★★★★
Tadej Pogacar
Este ano apostou na dobradinha e até agora tem saído na perfeição. Dominou o Giro como quis, a preparação foi perfeita e está mais motivado do que nunca. Com os problemas de lesões de uma boa parte dos rivais, Pogacar tem de ser considerado o grande favorito, ainda conta com o poderoso bloco de montanha da UAE.
Resta saber se o Giro vai passar fatura, desde Marco Pantani em 1997 que nenhum ciclista consegue Giro+Tour na mesma temporada.
★★★★
Jonas Vingegaard
Com a preparação ideal era o favorito nr. 1, a forma dominadora como venceu as duas últimas edições banalizando Pogacar, ainda hoje me impressionam.
Começou o ano a voar e a passear sozinho pelas subidas que lhe apareciam na frente, ninguém o conseguia seguir. Até que na Itzulia acaba como uma das vítimas da famosa curva basca, foi dos mais afetados, fraturou clavícula, várias costelas, teve uma contusão pulmonar e pneumotorax. Passou mais de uma semana no hospital e por essa razão não lhe podemos dar 5 estrelas, a preparação esteve longe de ser a ideal.
No entanto, é bom que os rivais o eliminem o quanto antes, porque se ele for sobrevivendo, então terão um problema em mãos.
Primoz Roglic
Começou o ano longe do melhor, depois na Itzulia já deu o ar da sua graça com um contra-relógio muito bom, mas tudo terminou na famosa queda. No meio do azar foi dos que teve mais sorte, não viu a sua preparação muito alterada.
No Dauphiné esteve forte, mas a fraqueza demonstrada na última etapa deixou algumas dúvidas, no entanto, também pode estar a apontar o pico para o final do Tour, que é onde se concentram as maiores dificuldades.
★★★
Adam Yates
Pogacar diz que Adam Yates é o seu braço direito, ou seja, habitualmente poderá ser o último homem na montanha para o esloveno. No ano passado já realizou essa tarefa, terminou no pódio e mostrou ser fiável.
Venceu a Volta à Suiça, onde a UAE dominou a prova, está claramente em boa forma.
Carlos Rodriguez
Um maratonista, melhora com o acumular de fadiga e quanto mais dura melhor para ele. No ano passado teve uma estreia de sonho, venceu uma etapa e quase fez pódio.
Não devia haver dúvidas na Ineos de quem é o líder, Rodriguez neste momento está um patamar acima dos restantes líderes da equipa.
★★
Remco Evenepoel
A preparação não foi a ideal, pertence ao grupo de vítimas da Itzulia. Apareceu no Dauphiné com uns quilinhos a mais, mas ontem na apresentação estava muito seco. Na primeira semana tem um contra-relógio para fazer diferenças, ou não fosse o campeão do mundo.
O problema de Remco são as etapas maratona de alta-montanha e por essa razão não está mais acima na lista.
João Almeida
Impressionou na Suíça e subiu na nossa lista. Ele e Adam Yates serão os homens de confiança de Pogacar, isso poderá permitir-lhe fazer uma classificação interessante entre o top-10, a sua regularidade e capacidade de sofrer também jogam a favor dele.
Vai ganhar tempo a muita gente no contra-relógio da primeira semana.
★
Juan Ayuso
Mais um 'gregário' da UAE, dos três mosqueteiros de Pogacar é o mais irregular, mas também é o que num dia inspirado pode explodir com a corrida.
Jai Hindley
É um vencedor do Giro, fraco não é, mas no ano passado levou um reality check, está longe dos aliens, andou de amarelo mas foi por pouco tempo.
Este ano entra como gregário de Roglic e se o esloveno falhar poderá tomar as rédeas da equipa. Pode também ser utilizado taticamente para pressionar as equipas rivais, indo para a fuga ou funcionando como ciclista satélite.
Simon Yates
Mostrou pouco este ano, alguns azares também tiveram o seu papel. Não sabemos como se vai apresentar, a preparação não foi a ideal mas há outros que se podem queixar mais. Com a provável saída para a Visma, esta será o último Tour com a equipa australiana, uma história bonita que termina.
Richard Carapaz
Segundo Vaughters, é o único que pode bater Pogacar e Vingegaard, por isso aparece nesta lista. :)
Na Suíça voltou a beijar o chão, mais um que viu a preparação afetada por azares. Candidato ao top-10 e na melhor das hipóteses top-5, acima disso parece complicado.
Enric Mas
Começou o ano lentamente, foi melhorando mas não impressionou. Na Suíça não esteve mal mas também não se pode dizer que esteve grande coisa.
Candidato ao top-10.
Egan Bernal
Tem realizado um ano bastante interessante, o problema é que o nível atual dos rivais é tão elevado que ser muito bom não chega.
O colombiano confessou que tem feito números semelhantes aos que fazia antes do acidente, o que lhe permite ficar a mais de três minutos dos gregários de Pogacar!
David Gaudu
Está aqui porque ficava mal não meter um francês. Top-10 e até temos algumas dúvidas, tem andado muito mal este ano.
Felix Gall
Temporada apagada ao contrário da equipa. Candidato ao top-10.
Outros ciclistas a seguir
Mathieu van der Poel
Admitiu que quer vencer uma etapa este ano, o dia do gravel poderá ser interessante para ele. Vai ser importante para Philipsen como no ano passado, é um dos melhores lançadores/bloqueadores de sprint.
Wout Van Aert
A lesão na primavera arruinou-lhe a campanha das clássicas. A recuperação foi demorada e chega ao Tour com algumas dúvidas, mas nos nacionais já mostrou um nível decente.
Sem Kuss a responsabilidade para ele aumenta muito, não sabemos se os sprints serão sacrificados. Além disso é ano de Jogos Olímpicos, é um dos objetivos do ano para Van Aert, veremos como a sua condição evoluirá ao longo da prova.
Tom Pidcock
Não trabalha para ninguém, entretanto deve ter sido apertado pela equipa e o rapaz lá teve de vir a público dizer que se tiver que ser, ajuda Rodriguez ou Bernal.
As primeiras etapas parecem ser bem interessantes para ele. É dos que tem os Jogos Olímpicos como objetivo principal este ano, no caso dele no XCO.
Matej Mohoric
Etapa 9, o atual campeão mundial de gravel estará no seu quintal.
Matteo Jorgenson
Que temporada! Venceu o Paris-Nice e no Dauphiné esteve perto de vencer Roglic, são feitos de grande relevância, mas uma coisa são provas de uma semana outra coisa completamente diferente são as grandes voltas. Jorgenson ainda não provou nada em provas de 3 semanas, com a ausência de Kuss o seu papel vai ser ainda mais importante.
Laurens De Plus
O Sepp Kuss belga, extraordinário gregário de montanha.
Alexey Lutsenko
Se abdicar da geral e apostar em vitórias de etapas, pode ser um dos animadores com o seu estilo ofensivo. Se apostar no top-10, então vai passar o Tour completamente escondido.
Aleksandr Vlasov
No Dauphiné foi um gregário de luxo para Roglic e a tarefa dele aqui será a mesma. Também pode ser utilizado como isco de forma a desgastar as equipas rivais.
Pello Bilbao
Ciclista fiável que tem uma forma de correr bastante agressiva mesmo quando está a tentar a geral. Não se admirem de o ver em fugas e no final do Tour estiver ali no final do top-10.
Santiago Buitrago
Mais um que vai ter de decidir se quer apostar na geral ou vai continuar a ser um caça-etapas nas grandes voltas. De recordar o que o colombiano já venceu etapas em grandes voltas, é um diplomado na bela arte da fuga de la fuga.
Mikel Landa
Braço direito de Evenepoel, caso o belga falhe o Landismo é ativado.
Lenny Martinez
Entra na equipa surpreendentemente, veremos como se vai portar. Andou bem quase todo o ano, mas na aproximação ao Tour, desiludiu bastante na Suiça.
Ben Healy
Desiludiu um pouco na primavera, chega ao Tour para brilhar. É um ciclista que quando está bem é uma dor de cabeça para os rivais.
Ganhar uma etapa é o grande sonho do irlandês.
Alberto Bettiol
Acaba de se sagrar campeão italiano, Bettiol é um ciclista especial, capaz de coisas surpreendentes para o bem e para o mal. A EF está pejada de caça-etapas, Bettiol é mais um.
Derek Gee
Deixou toda a gente de boca aberta no Dauphiné., resta saber se vai apontar para a geral ou volta à função de caça-etapas. Se apostar na geral, corre o risco de fazer um Zubeldia.
Giulio Ciccone
Candidato à montanha e a ganhar uma etapa de montanha através da fuga. Deu excelentes indicações no Dauphiné.
Romain Bardet
Deverá concentrar-se em etapas e esquecer a geral. Na segunda e terceira semanas tem boas etapas para ele, tem é de entrar na fuga certa.
Oier Lazkano
Ciclista de culto, capaz de andar com os melhores classicômanos na primavera e aguentar os voltistas no Dauphiné.
Michael Matthews
Fez uma primavera interessante, aqui o papel é tentar sacar uma ou outra etapa, tem algumas que lhe assentam bem.
Magnus Cort
A Uno-X tem alguns ciclistas que têm estado bem (Tiller, Abrahamsen e Kulset), mas em termos de experiência em grandes voltas nenhum deles se compara a Cort. O dinamarquês começou o ano discreto mas paulatinamente foi subindo de nível e aparece no Tour com um objetivo claro, ganhar uma etapa.
Sprinters
★★★
Jasper Philipsen
Há um ano, não haviam dúvidas que era o melhor sprinter do mundo, o rei do sprint. Neste momento temos algumas dúvidas, este ano tem sido recorrentemente batido por Merlier e algumas derrotas não foram de meia-roda, mas de bicicletas completas. Nos nacionais belgas foi a vez de De Lie aplicar-lhe um sprint devastador que deixou Jasper Disaster nas lonas.
Mas estamos no Tour, quem lhe quiser tomar o reinado vai ter de o fazer aqui. Além disso tem um comboio de luxo com o campeão do mundo a lançá-lo.
★★
Mads Pedersen
Em potência pura perde para Philipsen, mas o dinamarquês é um pouco mais versátil. No Dauphiné venceu a etapa de sprint e mostrou que a forma é boa.
O comboio da Lidl-Trek é bastante mais modesto que o da Alpecin-Deceuninck.
Sam Bennett
Renasceu na Decathlon-Ag2r, o que fez nos 4 dias de Dunquerque foi impressionante, depois confirmou no Dauphiné, só Pedersen conseguiu batê-lo num sprint apertado. Motivado é dos melhores velocistas do pelotão.
Dylan Groenewegen
É um sprinter demasiado errático, é cada vez mais raro vê-lo bem posicionado no sprint e faz com que na maioria das vezes não consiga disputar o sprint.
De qualquer forma, o neerlandês quando consegue estar no sprint é um dos mais potentes e por essa razão leva duas estrelinhas.
Arnaud De Lie
Tem alguma dificuldade nos sprints massivos completamente planos, mas a forma como bateu em pura potência Philipsen e companhia nos nacionais da Bélgica obriga-nos a colocá-lo neste grupo.
★
Biniam Girmay
Procura a primeira vitória no Tour, Bini está cada vez mais focado no sprint, mas a sua versatilidade continua intacta.
Fabio Jakobsen
Infelizmente Jakobsen mudou de equipa e além de não ter resolvido os problemas crónicos que tinha, piorou-os. A temporada tem sido fraca, não há outro modo de a descrever.
Está na lista por respeito.
Mark Cavendish
Procura a 35ª, tem uma equipa voltada para ele. Tem sido uma época complicada para o britânicos, mas o foco é o Tour.
Alexander Kristoff
Renasceu nos últimos 2 meses, com bons resultados. Já não é dos mais rápidos, mas compensa isso com experiência.
Phil Bauhaus
Sem comboio, mas vai estar lá na confusão e vai dar trabalho aos rivais.
Wout Van Aert
Com a ausência de Kuss, estamos em crer que Van Aert vai ser mais resguardado e portanto estar nos sprints poderá ser uma impossibilidade. Mesmo assim leva uma estrela porque estamos a falar de um super-classe.
Outros: Gaviria, D. Van Poppel, Coquard, Démare, Thijssen, M. van der Berg
As nossas apostas
Vencedor:
CR: Vingegaard
BD: Pogacar
Restante pódio (sem ordem)
CR: Roglic, Pogacar
BD: Roglic, Vingegaard
Restante Top-10 (sem ordem)
CR: Almeida, A. Yates, Rodriguez, Evenepoell, Jorgenson, Hindley, S. Yates
BD: A. Yates, Rodriguez, Almeida, Evenepoel, Jorgenson, Hindley, Ayuso
Camisola verde
CR: PhilipsenBD: Philipsen
Classificação da montanha
CR: Ciccone
BD: Gee
Classificação da juventude
CR: Evenepoel
BD: Rodriguez
Combativo
BD: Rodriguez
Combativo
CR: "um francês qualquer"
BD: Ben Healy
Classificação por equipas
CR: UAE
BD: UAE
CR: UAE
BD: UAE
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