Clássica Porto-Lisboa
A clássica Porto-Lisboa foi durante quase um século a
clássica raínha do calendário velocipédico nacional. Não que este tipo de
provas em Portugal abundassem, pois somos por natureza muito mais adeptos de
provas por etapas ao invés do que acontece na Bélgica ou na Holanda por
exemplo. A prova realizava-se todos os anos no dia 10 Junho, dia de Portugal, e
contabilizava um total de 330 km. Era considerada a segunda clássica com maior
quilometragem do mundo logo atrás da Bordeaux-Paris (560km). Ganhou o estatuto
da clássica mais longa a partir de 1989 com o final da clássica francesa. Até
aos anos 70 a Porto-Lisboa rivalizava com a Volta a Portugal no que ao
mediatismo diz respeito, no entanto a partir desses anos começou a perder importância
para a Grandíssima ao enveredar por estradas mais acessíveis e menos sinuosos,
deixando cair a misticidade muitas vezes associada às provas de um dia.
Charles George, o primeiro vencedor da clássica Porto-Lisboa, em 1911 |
Ao todo foram realizadas 74 edições, entre 1911 e 2004,
primeiro devido à 1ª Guerra Mundial e depois devido a dificuldades económicas
houve anos em que a prova não se realizou. O primeiro vencedor foi o francês,
Charles George, que demorou mais de 17 horas a fazer o percurso. Outros tempos!
Até 1967 só portugueses venceram, em 67 e 68 uma equipa belga da região da
Flandres veio até cá e fez a dobradinha, 69 marcou porém o regresso das
vitórias portuguesas que se estenderam até 1992 quando Oleg Lokvin, ciclista
russo, que corria pela portuguesa Feirense venceu. A partir daí e até 2004, ano
em que Pedro Soeiro, ultimo vencedor, repete o triunfo do ano anterior, a
Porto-Lisboa teve um misto de vencedores portugueses e estrangeiros. De realçar
que em 2002 houve uma tentativa de dinamizar a prova ao dividi-la em 3
sectores, porém redondamente falhada pois alterou o cariz da prova e foi algo
que não foi bem recebido no seio da modalidade.
Grandes nomes do ciclismo nacional venceram esta clássica,
Marco Chagas, Venceslau Fernandes, Américo Silva ou Cândido Barbosa são alguns
exemplos de nomes que ergueram os braços em Lisboa. Os mais vitoriosos foram
Fernando Mendes que, com a camisola do Benfica, averbou três triunfos
consecutivos nos anos de 1971, 72 e 73. Também com três vitórias aparecem: João
Francisco (Campo de Ourique e Belenenses), em 1927, 28 e 33; José Maria Nicolau
(Benfica), em 1932, 34 e 35; e Alexandre Rua (Coelimae FC Porto), em 1980, 82 e
84.
O melhor registo em termos de tempo pertence ao espanhol
Melchior Mauri, vencedor da Vuelta em 1991, e que em 2000 venceu a clássica
portuguesa ao serviço do Benfica.
Por último uma reflexão, estaria o pelotão nacional atual
preparado para uma clássica desta envergadura, com tão poucas equipas para uma
prova tão longa e a mentalidade dos atletas estaria aberta à realização da
prova, e existiriam patrocinadores capazes e com vontade de investir na prova?
Creio que não, infelizmente !
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