O interessante caso da Volta ao Algarve - Parte II
Em fevereiro de 2015, ou seja, há cerca de dois anos atrás, escrevi um artigo sobre a falta de transmissão televisiva da prova portuguesa que tem trazido até às estradas portuguesas, algumas das maiores figuras do ciclismo mundial.
Nestes dois anos, duas coisas mudaram na prova, a primeira delas foi a subida de escalão, passando a ser 2.HC, isto quer dizer, que é a competição mais categorizada realizada em território nacional. A outra, foi a notícia que na semana passada surpreendeu tudo e todos, finalmente a prova vai ter transmissão televisiva.
A subida de escalão vs pelotão
Apesar da subida de escalão, não se pode dizer que o pelotão que estará presente no Algarve este ano seja superior ao do ano passado ou dos anteriores. E um dos motivos para isso acontecer, é precisamente a falta de transmissão televisiva da prova portuguesa. E isso fica provado, quando uma das principais equipas do pelotão mundial, a Trek-Segafredo, antes do cancelamento do Tour do Qatar, admitiu que tinha abdicado da presença na Volta ao Algarve, pela falta de transmissão televisiva.
Os patrocinadores quando investem no ciclismo, fazem-no, para ter visibilidade e para verem a sua marca exposta. E qual é o principal meio de promover a mesma, numa prova de ciclismo? Através da transmissão televisiva e quando não há, a prova torna-se naturalmente menos apetecível.
É verdade que nos últimos anos, o pelotão que esteve presente na Algarvia foi sempre de grande qualidade e não houve transmissão. Mas por quanto mais tempo continuaria a ser assim? Este ano, ia ser a Trek-Segafredo a colocar de parte a Algarvia (só não o fez, porque o Tour do Qatar foi cancelado, a equipa americana ficou com um buraco no calendário e pediu um convite à organização da prova portuguesa, que foi aceite, seria difícil dizer 'não' a uma equipa do World Tour). Nos próximos anos, a probabilidade de mais equipas seguirem esse exemplo era grande e porquê? Simples, porque para sobreviverem as equipas têm de mostrar os seus patrocinadores à maior audiência possível, é assim que funciona e é assim que as equipas sobrevivem.
Finalmente!
Na semana passada, finalmente surgiu a notícia que todos os seguidores da modalidade em Portugal tanto desejavam, a TVI24 irá transmitir a edição deste ano, da Volta ao Algarve. Finalmente, a prova terá a devida atenção e com o bónus da Eurosport também a transmitir para toda a Europa.
Esta é uma notícia que garante a qualidade do pelotão nos próximos anos, as equipas terão a exposição que desejam e logo no inicio da temporada, ou seja, num período em que as equipas têm novos equipamentos, muitas delas com novos patrocinadores e fornecedores.
Promoção da região
No comunicado da Federação Portuguesa de Ciclismo sobre este tema, pode-se ler:
Perante isto, tem de se fazer a pergunta, porque é que é um extraordinário meio de promoção da região? A resposta é dada por Desidério Silva e Carlos Luís, presidentes da RTA e ATA.«A transmissão em direto será possível graças ao investimento da Região de Turismo do Algarve (RTA) e da Associação Turismo do Algarve (ATA), em parceria com o Turismo de Portugal, que encaram a Volta ao Algarve, organizada pela Federação Portuguesa de Ciclismo, como um extraordinário meio de promoção internacional da região»
«A transmissão da Volta ao Algarve valoriza e dá notoriedade a esta região, que é um destino turístico de excelência para as bicicletas, nas suas diferentes vertentes. Somos uma região com excelentes condições naturais e paisagísticas, com percursos cicláveis e com grande oferta hoteleira, de cultura, património e gastronomia. O direto permitirá alavancar a notoriedade internacional do mais importante destino turístico do país», diz Desidério Silva, presidente da RTA.
«A ATA, responsável pela promoção internacional do Algarve, congratula-se com a divulgação da região pela Eurosport em toda a Europa, pois permite-nos chegar aos nossos principais mercados emissores de turistas. Mostrar o destino nesta altura do ano através da Volta ao Algarve é uma excelente oportunidade promocional para o Algarve» afirma, por sua vez, o presidente da ATA Carlos Luís.
Segundo um estudo realizado por uma consultora francesa (sportlab), o ciclismo é um dos desportos mais vistos por pessoas que não costumam assistir eventos desportivos. E isto acontece porque esses espetadores (cerca de 61%, segundo o estudo) interessam-se pela beleza das paisagens que a televisão transmite, durante uma prova de ciclismo. Enquanto que apenas 32% se interessam pela corrida.
Isto vem de encontro ao que os presidentes da RTA e ATA afirmaram.
O Algarve pelo clima e pelas condições que oferece aos ciclistas (hotéis
e diversidade de terreno para se treinar), deveria ser um local
privilegiado para que as equipas fizessem os seus estágios invernais.
Como é por exemplo, a região de Calpe em Espanha, que é uma das 'mecas' do ciclismo, porque durante o inverno agrega praticamente todas as equipas do World Tour,
que procuram o sul de Espanha para treinar, já que mais a norte, no
centro da Europa, as condições atmosféricas não são as melhores. Será
que o Algarve, não podia aspirar a ter as melhores equipas a estagiar todos os invernos?
O que se pede agora, é que pelo menos seja duradoura a transmissão e se torne um hábito termos a possibilidade de ver a prova pela televisão em todos os inícios de temporada, de preferência com os melhores nas estradas do sul do país. Que não aconteça de se transmitir este ano e já em 2018, voltemos aos mesmo de antes.
Espero não escrever um terceiro capítulo deste tema, era bom sinal!
Imagem retirada do site oficial da Volta ao Algarve (http://voltaaoalgarve.com)
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