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Entrevista a Bruno Pires

Bruno Pires, ciclista português com 34 anos, natural da vila do Redondo. Actualmente compete pela equipa Tinkoff-Saxo.
Estivemos à conversa com o Bruno e agora partilhamos com vocês o resultado dessa conversa.


Etapa Raínha: Como é que te iniciaste no ciclismo?
Bruno Pires: A minha história no ciclismo é curiosa porque o desporto que eu gostava de praticar era o motocross. Eu andava sempre de bicicleta BMX e na terra de onde sou natural, a Vila do Redondo tinha um clube de ciclismo e na altura tinha uma amigo que era ciclista profissional, o Laurentino Piteira e o pai dele fazia parte da direcção. Um dia o clube organizou uma gincana, juntaram 10 ou 15 miudos e eu participei. A primeira vez fui segundo classificado, a segunda vez venci e eles depois convidaram-me. Mas mesmo assim eu não estava convencido, o que eu gostava era de motas. Mas eles disseram que me emprestavam a bicicleta e davam-me o equipamento e foi assim que comecei. 

ER: Como foi a transição do clube do Redondo para os profissionais? Tu iniciaste-te em Vila do Conde, no ASC, certo?
BP: No ASC-Vila do Conde, apesar de estar registado como profissional, nessa altura ainda era sub-23. O meu verdadeiro primeiro ano como profissional foi na Maia-Milaneza com o Manuel Zeferino. 
Quando era junior de 1º ano fui à selecção nacional, em junior de 2º ano fui correr na equipa de Lousa, depois estive presente no campeonato do mundo desse ano, a seguir fui convidado para ir correr na equipa do Vitória de Setubal que naquela altura tinha uma equipa muito forte com o Sérgio Paulinho, entre outros. Depois  foi quando integrei a equipa de Vila do Conde e passei a profissional na Maia em 2004.

ER: Foste campeão nacional em 2006. É para ti o melhor momento na tua carreira?
BP: Ser campão nacional é algo que fica para a história, quando se vê quem foi o campeão de elites desse ano é o meu nome que aparece. Posso dizer que foi o momento que me deu mais destaque, fica associado ao corredor. No entanto o facto de correr lá fora e ter ganho a Vuelta com o Alberto Contador são feitos importantes. 

ER: Qual foi o momento mais triste da tua carreira?
BP: O momento mais triste foi perder um colega na estrada. Foi das coisas mais tristes que vivi no ciclismo.

ER: Qual é a importância da família na vida do ciclista?
BP: É total, sem dúvida. Nós somos a "figura pública", mas precisamos muito de suporte. Apoio da equipa, de todos os que nos rodeiam mas principalmente da família. Agora que parti a clavícula, os amigos mandam mensagens e ligam, mas é a família que está sempre a apoiar. 

ER: Como vês o futuro do ciclismo Português?
BP: A vida é feita de ciclos. Há momentos altos nos quais não se aprende grande coisa e momentos baixos que servem para aprender, corrigir, melhorar e voltar com mais força. Eu ainda apanhei a fase em que o ciclismo portugues estava no momento alto. Grandes equipas, provas bem organizadas, transmissões televisivas. Agora está a passar por uma fase menos boa mas vê-se que o calendário português está a aumentar a nível de competições. Não acredito que vai voltar ao que já foi, as coisas vão ser mais moderadas. Mas o ciclismo vai melhorar.

ER: Tens ideia de voltar a correr em Portugal? 
BP: Nunca se pode dizer "desta água não beberei", mas a minha vontade não é essa. A minha vontade é continuar lá fora e se possível terminar lá a minha carreira. Eu penso nas coisas no momento, e neste momento sei que tenho de lutar e trabalhar para conseguir continuar no ciclismo internacional. Se por algum motivo não conseguir equipa do worldtour tenho de estudar as alternativas. Também já tenho 34 anos e 11 anos como ciclista profissional.

ER: E a transição do pelotão nacional para o internacional, quais foram as principais diferenças? BP: A principal diferença é, sem dúvida, o nível competitivo. A velocidade a que as provas são feitas. Eu lembro-me que no início, os primeiros 2/3 meses custou-me um pouco aquele ritmo, mas depois adaptei-me bem. 

ER: Mas e a nível de treinos, alimentação, planeamento da temporada, quais são as principais diferenças de correr lá fora?
BP: Eu posso dizer que quando estava em Portugal treinava mais, porque há menos dias de competição. Como o espaço entre uma competição e outra é maior, isso obriga-nos a treinar mais. Quando temos competições com menos espaço de tempo, como acontece no ciclismo internacional, o que precisamos é descansar.  
A nível da alimentação vamos sempre aprendendo alguma coisa, mas eu chego à conclusão que quanto mais simples e natural melhor. Com tanta oferta às vezes as pessoas até se sentem perdidas. Eu, na minha experiência pessoal, noto que quando fiz as coisas mais simples foi quando o corpo reagiu melhor.

ER: O ciclismo está em constante evolução, a Sky no Giro começou a usar motorhomes, qual a tua opinião?
BP: Sinceramente não tenho opinião formada, porque nem pensei muito nisso. É algo novo, que está a surgir, como tantas outras coisas que surgiram no ciclismo. Eu vejo isso como uma estratégia de marketing, como se usa, por exemplo, nos desportos motorizados. 

ER: Muito se tem falado à cerca do desempenho do Rui Costa no Tour. Consideras o Rui Costa um "voltista" ou não?
BP: Até aos dias de hoje os resultados dele têm mostrado que ele é mais ciclista de provas de 1 dia, uma semana, do que um "voltista". Mas eu já vi muita coisa no ciclismo e o Rui pode ainda evoluir.

ER: Sabemos que correste com alguns dos melhores ciclistas da tua geração. Tens algum idolo no ciclismo? Se sim, qual?
BP: Sim, tenho um ídolo que é o Alberto Contador. Sou colega dele e sei a capacidade que tem de conseguir as coisas. O quanto trabalha e as dificuldades por que passa para conseguir atingir os objectivos. A vida dele também não é nenhum mar de rosas, ele teve de lutar muito. 
Em parte foi por ele que fiquei na Tinkoff em 2013. Foi ele que fez força com o Bjarne. E eu admiro-o muito. 

ER: Também trabalhaste com o Andy Schleck. Achas que ele podia ter chegado onde o Alberto Contador chegou?
BP: São ciclista diferentes. O Alberto é muito mais forte psicológicamente, o Andy era um talento natural mas só se preparava para o Tour e Clássicas das Ardenas, mas tirando essas provas era um ciclista vulgar. O Alberto não. A cada corrida que vai é para dar tudo, pelo menos ficar em top5.  

ER: Para finalizar diz-nos qual é a tua prova de ciclismo favorita?
BP: As competições que mais prazer me dão é o Critérium du Dauphiné e o Tour do Colorado. 
Das três grandes voltas é o Tour. É o sonho que me falta realizar, infelizmente os anos estão a passar e cada vez vejo ser mais dificil de concretizar. Mas enquanto estiver no activo, tudo pode acontecer. 

Queremos agradecer publicamente ao Bruno pela sua disponibilidade pois estava a recuperar da fractura da clavícula e dispendeu algum tempo para se encontrar connosco.
Desejamos-lhe o melhor tanto a nível profissional como pessoal. 

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