Rivalidade ao máximo
Ao longo dos tempos reparamos que
no que às duas rodas diz respeito existem rivalidades que marcam uma geração,
tal absorvidos ficam os adeptos pelas mesmas.
Vimos em Portugal talvez a maior
rivalidade histórica entre José Maria Nicolau e Alfredo Trindade nos anos 30,
um pelo Sporting, o outro pelo Benfica, eram ciclistas que gozavam de uma enorme popularidade no país. Poucos saberão, mas a rivalidade Benfica x
Sporting começou precisamente no ciclismo e nesta acérrima luta entre
Trindade e Nicolau, que depois viria a transportar-se para as outras
modalidades, sobretudo para o futebol. Tempos em que as bermas das estradas se
enchiam de gente para aplaudir a caravana velocipédica.
Quem nunca ouviu falar da
rivalidade em França entre Anquetil e Poulidor, ou Lemond e Fignon, ou
Armstrong e Ullrich mais recentemente.
São estas rivalidades que cativam
o espectador, que prendem o mais pacato ao ecrã e que fazem exultar o mais
entusiasta. Por muito que gostemos de um em
detrimento de outro, creio que o que todos desejam é que haja espetáculo e
emoção, o desporto vive disso e o ciclismo em especial tem uma grande dose de
espetacularidade que deve tentar exponenciar cada vez mais.
Tudo isto, para chegar a um ponto
em que me pretendo focar, a competitividade actual em relação ao passado.
Quando Merckx ganhou tudo e mais
alguma coisa, à partida para a grande maioria das provas em que tinha objectivo
de ganhar, e eram quase todas, sabia-se que salvo algum azar de maior relevo, a vitória sorrir-lhe-ia. O mesmo se passou com Hinault, e sobretudo com
Indurain ou Armstrong no Tour, eram anos em que a grande questão era saber quem
era o segundo. Por muito que gostemos desses ciclistas, o espectáculo era algo
previsível e o mero espectador desportivo não tinha muito interesse na contenda.
Merckx tinha Zootemelk, Hinault
viu aparecer-lhe Lemond mas em França e na equipa mandava o Texugo, Indurain tinha à época Rominger
mas quando chegava ao Tour invariavelmente não conseguia fazer o que fez várias
vezes na Vuelta. Armstrong teve em Ullrich um grande rival, mas havia Beloki
também à espreita. Contudo nestes casos contavam-se assim as grandes hipóteses
de vitória e mesmo para um top-10 a escolha centrava-se em 12/15 ciclistas,
excepções sempre houve, lembremo-nos recentemente de Oscar Pereiro, ainda assim
a norma é ganhar um favorito.
Ora um apostador à época e
apostando nos ciclistas citados não corria um grande risco de perder dinheiro
pois apostava no que era mesmo o principal candidato à vitória.
Olhando para o Tour 2015, e pressupondo que não existem contratempos de última hora, teremos à partida Vincenzo Nibali, Alberto Contador, Chris Froome e Nairo Quintana, os 4 mosqueteiros. Para um top-10 e muitos deles com ambições a mais, entre outros estarão, Thibaut Pinot, Romain Bardet, Jean Christophe Peraud, Rui Costa, Joaquim Rodriguez, Bauke Mollema, Tejay Van Garderen, Michal Kwiatkowsky, Alejandro Valverde, Warren Barguil, Van den Broeck, Andrew Talansky, Pierre Rolland e Wilco Kelderman.
E se um destes se intrometer com
os 4? Acho muito possível sobretudo Pinot, Talansky e Rodriguez.
E surpresas? Há sempre,
invariavelmente, numa prova de três semanas existem revelações, o que vai
alargar o leque ainda mais, por exemplo os manos Yates podem causar sensação.
E outros que não estarão lá mas
que tinham qualidade para tal, Fabio Aru, Rigoberto Uran, Richie Porte ou
Domenico Pozzovivo por exemplo.
Nos últimos 2/3 anos era Contador
vs Froome, Nibali mostrou que se podia intrometer e Quintana seguiu-lhe o rasto e muito sinceramente creio que ainda este ano ficaremos com a mão cheia. As
equipas trabalham muito bem e para objectivos determinados o que faz com que os
ciclistas se centrem nas provas certas e a probabilidade de inêxito seja menor. Ao contrario do que se fazia outrora, onde se viam lideres em competições quase só
para rodar, hoje em dia exige-se mais e o nível está de tal modo elevado que
para ganhar é preciso estar realmente muito bem e ter um conjunto de factores a
seu favor, que o diga Contador este ano. Já para não falar da confiança que dá
a quem ganha e a crise da mesma que provoca em quem não o faz.
O fosso entre os melhores e os
outros tende a diminuir o que é bom para o espectáculo e para a indefinição até
ao fim das provas.
Em suma, ao nível de provas por
etapas estaremos provavelmente perante o maior leque de qualidade que o
ciclismo viu desde há já algumas décadas e possivelmente desde sempre.
Aproveitemos!!!
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